domingo, 6 de maio de 2007

Benditos sejam os fortes de espírito, os decididos ainda que equivocados, os cheios de atitude ainda que não das melhores. Benditos sejam os de mão na massa, pé na tábua, café no bule e os que não viram coadjuvantes da própria vida. Benditos os que estão de um lado ou outro do muro, os que pulam o muro para mudar de lado, mas se sentem incômodos em cima dele. Benditos os que falam, os que dizem, os que contam, os que confessam, os que revelam, ainda que mais tarde tenham de lidar com um certo receio de ter se excedido. Benditos os excedidos, os excessivos, os exagerados, os demasiados, os desmesurados que não se contentam com a míngua da infinita ponderação, que não se tornam reféns das infindáveis variáveis. Benditos os livres para errar e acertar de vez em quando, que não se encarceram no futuro, no quem sabe, no talvez e no quase. Benditos os que erram e refazem, os que fazem de novo e erram novamente e que voltam a fazer para acertar uma hora dessas. Benditos os que têm pressa, de vida, de amor, de felicidade, de inspiração, de paixão, de sexo, de alegria, que sabem que o segundo é um já que está quase deixando de ser e não volta jamais, que aquela felicidade que não levamos conosco, que não desabrochou ali, que não pegamos à unha e olhamos nos olhos, perdeu-se e esgotou-se num avesso que não existe mais. Benditos os famintos de mundo, de olhos, de bocas, de céu, de outros lugares e outras gentes, de ser tudo de si o quanto antes.

["Mil Vezes", texto maravilhoso copiado do blog Mme.Mean]

2 comentários:

  1. Que texto lindo. Achei perfeito !

    Passa uma sensação de liberdade, de entrega, de vontade de pular do desfiladeiro sem se preocupar com o final da historia.

    Muito legal .

    Robson

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  2. � uma ben�o... mas smpre paguei um pre�o alto por ser assim... ou por ser pretensamente assim...

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