sexta-feira, 24 de novembro de 2006

MANÍACO

todo dia
um novo dia,
mas a mesma
e velha agonia...
sinceramente,
eu gostaria,
de viver diferente,
mas é quase uma mania:
chorar,
ao invés de estar contente.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

SARADO?

O mundo não quer inteligência,
Quer quarenta centímetros de braço.
O mundo não quer sensibilidade,
Quer cento e dez centímetros de tórax.
O mundo não quer fidelidade,
Quer sessenta e cinco centímetros de coxas.
O mundo não quer amor,
Quer um abdômen “rachado”, costas largas,
Uma cintura fina e as panturilhas bem definidas.
E eu, cansado de lutar contra o mundo,
Vou me render às graças das academias,
E aos milagres do stanozolol,
Com uma dieta fanaticamente equilibrada.
Quem sabe assim o mundo me queira,
E meu cérebro, até lá, sem neurônios,
E meu coração, quem sabe, empedrado,
Não te ame mais, famigerado mundo!?

sábado, 11 de novembro de 2006

TE ESPERO

eu te espero...
ama outra pessoa,
fica numa boa,
que eu te espero...
faz a tua vida,
cura tua ferida,
que eu te espero...
porque sei que no fim serás meu.
e por assim saber,
e por tanto te querer,
a cada dia mais te quero,
e te espero, amor, sem desespero.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

SEM TÍTULO

amar é quase uma maldição
se você ama sem ser amado.
é como aprender uma lição
que a gente queria deixar de lado.

QUASE NADA [Zeca Baleiro e Alice Ruiz]

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Se tudo passa com se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada
"(...)

Amo teus dons puros, tua pele de pedra intacta,
tuas unhas oferecidas ao sol de teus dedos,
tua boca derramada por toda a alegria,

mas, para minha casa vizinha do abismo,
dá-me o atormentado sistema do silêncio,
o pavilhão do mar esquecido na areia."

(Pablo Neruda)

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

"(...)

Assim tu e eu buscamos um vazio, outro planeta
onde não tocasse o sal tua cabeleira,
onde não crescessem dores por minha culpa,
onde viva o pão sem agonia.

(...)

Queríamos, sem dano nem ferida nem palavra,
e não foi assim o amor, senão uma cidade louca
onde as pessoas empalidecem nas sacadas."

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

CAMINHOS

escute aqui, meu rei!
tesão a gente encontra em toda parte,
mas amor...
ah!... amor é diferente!
amor não se acha em qualquer esquina,
amor não se sente por qualquer pessoa,
amor você dá e não espera de volta
(ou até espera, mas finge que não espera)
e quando menos se espera, ele te surpreende!
mas não se iluda, não, viu?!
muitas vezes não amamos um ser,
amamos o fato de estar amando,
e sendo assim, o engano torna-se fácil,
e quanto mais fácil, mais difícil a queda
quando do despertar da ilusão.
se mesmo assim preferes tesão ao amor,
sigas teu caminho de flores suaves,
mas se quiseres amor de verdade,
venha comigo pela estrada de espinhos,
longe do fácil, longe do vazio e da vaidade.

domingo, 5 de novembro de 2006

É MÁGOA [Ana Carolina]

É mágoa
Já vou dizendo de antemão
Se eu encontrar com você
Tô com três pedras na mão
Eu só queria distância da nossa distância
Saí por aí procurando uma contramão
Acabei chegando na sua rua
Na dúvida qual era a sua janela
Lembrei que era pra cada um ficar na sua
Mas é que até a minha solidão tava na dela
Atirei uma pedra na sua janela
E logo correndo me arrependi
Foi o medo de te acertar
Mas era pra te acertar
E disso eu quase me esqueci
Atirei outra pedra na sua janela
Uma que não fez o menor ruído
Não quebrou, não rachou, não deu em nada
E eu pensei: talvez você tenha me esquecido
Eu só não consegui foi te acertar o coração
Porque eu já era o alvo de tanto que eu tinha sofrido
Aí nem precisava mais de pedra
Minha raiva quase transpassa a espessura do seu vidro
É mágoa
O que eu choro é água com sal
Se der um vento é maremoto
Se eu for embora não sou mais eu
Água de torneira não volta
E eu vou embora
Adeus

NEUROSE [ou MEA MAXIMA CULPA]

culpada a minha vida, a minha idade,
culpa de tudo e mais um pouco.
é culpa da minha falta de sanidade
dentro de um mundo cada vez mais louco.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

PARA QUEM AINDA VIER A ME AMAR [Roberto Freire]

Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.

Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor,
dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.

Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo
e nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema
de carne, sangue, nervos e sêmen.

São versos que pulsam, gemem e fecundam.
Meu poema se encanta feito o amor dos bichos
livres às urgências dos cios
e que jogam, brincam, cantam e dançam
fazendo o amor como faço o poema.

Quero a vida às claras superfícies
onde terminam e começam meus amores.
Eu te sinto na pele, não no coração.
Quero do amor as tenras superfícies
onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.

Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor,
mas virá sempre antes, não depois da excitação.

Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo
e não gozo mais porque eu te amo.

Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca,
mesmo quando se tornam quentes e congestionadas,
úmidas e latejantes todas as mucosas.

A nudez a dois não acontece nunca,
porque nos vestimos um com o corpo do outro,
para inventar deuses na solidão do nós.
Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.

No amor, jamais nos deixamos de completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto. Ponto.