quinta-feira, 27 de julho de 2006

ESTRELAS [Oswaldo Montenegro]

Pela marca que nos deixa a ausência de som
que a emana das estrelas,
Pela falta que nos faz
a nossa própria luz a nos orientar.
Doido corpo que se move,
é a solidão dos bares que a gente freqüenta,
pela mágica do dia,
que independeria da gente pensar.
Não me fale do teu medo.
Ah, eu conheço inteira sua fantasia.
E é como se fosse pouca,
e a nossa alegria não fosse bastar.
Quando eu não estiver por perto,
canta aquela música que a gente ria.
É tudo o que eu cantaria
e quando eu for embora, você cantará...

2 comentários:

  1. ai, esses nossos tolos corações!

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  2. Metade
    Oswaldo Montenegro

    Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
    Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
    Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
    Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
    Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
    Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
    Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
    Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
    Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.
    Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
    Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
    Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
    Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
    Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
    Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...
    Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
    E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
    Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
    Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
    Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
    Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.
    E que minha loucura seja perdoada.
    Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

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