estou cansado, moído, doente...
e hoje escrevo para espantar a tristeza.
não posso mudar o mundo descrente,
nem posso lutar contra a minha natureza.
estou rouco, dolorido, indignado...
e hoje escrevo para poupar minha voz
não posso condenar o infeliz culpado,
nem posso exterminar a injustiça atroz.
hoje eu escrevo porque o papel é meu escudo,
hoje eu escrevo porque a arte é minha arma,
hoje eu escrevo porque não tenho saída,
esta é minha vida e de mais ninguém,
minha sentença, minha remissão, meu carma.
e já que é assim, eu quero a justiça de Deus,
e já que é assim, eu quero o descanso do herói,
eu quero a glória de ver o primeiro filho nascendo,
eu quero o amor do homem apaixonado,
quero a dor da viúva nova,
quero o sabor do sangue pisado descendo garganta abaixo...
quero isso e tudo o mais que não me lembro,
para que eu jamais me esqueça que ser humano é sentir tudo intensamente,
e que por mais que eu não queira sentir coisa alguma,
estou fadado a sentir deveras,
porque é assim que poeta sente.
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